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Antonio Bokel
Editora Réptil

Exposição NADA ALÉM DAS PALAVRAS curadoria Daniela Name . Galeria Matias Brotas

linha, o caminho, direcção, percurso, tendência…o acto de alinhar.

“Align” é o resultado de uma busca no campo das dualidades material/imaterial, uma pesquisa assente numa linha de transição e campos mais subtis em que Antonio Bokel apresenta através da instalação e desenho uma constante tentativa de alinhamento (impossível) dentro do espaço físico e matéria. Aqui a mortalidade, existência e consciência humana reside no facto de por mais que a linha possa parecer perfeita ao olhar terá sempre a beleza da imperfeição do traço humano.

Exposição L Nature d’or
curadoria Mario Gioia
abertura 28 de Julho 2015 (terça feira) 19hs
exposição de 29/07 à 28/08
aberto de segunda a sexta de 12h às 20h
Galeria Mercedes Viegas. Rua João Borges 86, gávea RJ tel. 55 21 2294 4305

Arte como por acaso

O sentido de um discurso emerge para além daquilo que significa cada uma das palavras nele contidas passando a se expressar na superfície do seu todo. Mas só depois de feito é que se pode compreendê-lo. Antonio Bokel é objetivamente explícito na concepção de sua ação Como Por Acaso em que sua sintaxe, disposta em um lambe-lambe no fundo da vitrine, é borrada de tinta em um ato único propiciado pelo artista. Mas as consequências desse gesto não ficam naquela crosta do acontecimento em si que constatamos em data e local sabidos. Na proposta de Bokel nos deparamos antes com a dúvida que com a certeza. Será que presenciamos um comparativo, isto é, a performance se deu ao acaso ou, ao contrário, houve a intenção de que se assemelhasse com o casual e assim agiu o artista em conformidade?
A grande charada está na relação lógica das palavras na frase que se ergue diante dos olhos em sua simplicidade colossal que parece não deixar dúvidas, e o expectador menos atento aceita sem muitas especulações. Haveríamos de nos preocupar com algo mais? Decerto que sim, porque vivemos um período em que justamente pequenos detalhes possuem grande potência, melhor dizendo, aquilo a que estabelecemos insignificâncias são justamente nossos piores deslizes. O que não pode ser maior que a montanha torna-se, paradoxalmente, imperceptível.
Façamos então uma breve investigação sobre o estabelecimento da linguagem em Como Por Acaso; há muita coisa que pode ser captada abstratamente quando falamos, mas no momento da produção / recepção de enunciados temos algo único: é a interpretação, interpretando nos comunicamos e dessa maneira somos levados a uma outra dimensão universal da comunicação: a criatividade. Aqui (em seu enunciado) o artista nos leva a refletir sobre a precariedade de nossa fala e sobre a árdua tarefa que é a formação de um discurso consistente. Com um balde de tinta que lança sobre o “acaso planejado” se mostra avesso ao ponto de vista que se satisfaz linguisticamente, aquele que aceita a tradição. Bokel é daqueles artistas atentos que acompanham a formação cultural de seu tempo, a gênese de cada uma de suas dimensões, à feição de um procedimento dialético em que nunca se deixa reduzir a qualquer formalização. É um inquieto.
Ao sermos confrontados com as possibilidades múltiplas da palavra é que percebemos a pertinência do processo poético-visual que a reinsere no campo da arte a qual, como dizia Michel Butor, derruba muros de conhecimento erguidos para separar a palavra da imagem. Nesse desenvolvimento o artista altera a referência alterando a verdade. Temos na vitrine o resultado de uma experimentação em que Bokel se submete à possibilidade do erro, não há uma real preocupação de fundamentação, mas concordância de que tudo está em constante movimento, tudo segue o fluxo de transformações da natureza.
A arte não é algo a serviço do entendimento, aliás, devemos desconfiar daqueles que prezam antes de tudo pela clareza, ela como recurso lógico não é um bem absoluto, mas um meio.

Osvaldo Carvalho
2014

Performance realizada em 2014
Projeto Vitrine Efêmera – Estudio Dezenove – Rio de Janeiro
fotos: Flávio Emanuel
agradecimentos especiais: Guto Carvalho e Julio Castro

Performance Como Por Acaso

Riso gera vida 2014
técnica mista sobre tela
200cm x 150cm